quinta-feira, 31 de julho de 2008

SOLIDÃO E DOIS (texto emprestado)

O SER-A-DOIS E A SOLIDÃO
Fala-se muitas vezes da doçura de ser dois. O próprio Sartre, homem tão friamente racional, fazia sua esta fórmula. Acreditemos que ela não é um lugar-comum banalizado por um romantismo falso que se exprimiria em um lirismo insípido. Longe disto. Trata-se na verdade de uma evocação que toca a tão séria e difícil questão da felicidade, naquilo que ela tem de essencial. Em todo ser humano há uma sede viva, uma inquietação vital, à qual só o amor é capaz de responder.

Ninguém pode contestar que pela nossa própria constituição, pela nossa estrutura ontológica, pelo nosso estilo psicológico, a solidão está profundamente incrustada em nós e representa uma ameaça permanente. Nascemos na solidão, morremos nela, e toda a nossa vida se desenrola sob o signo dela. Mas, por estranho que possa parecer, ela mesma veicula em nós o desejo tão ardente de amor que só cresce à medida que somos cada vez mais ameaçados de sermos reduzidos ao estar-só. Este conflito, que parece decisivo, tem o seguinte desenlace: a solidão profunda gera o desejo profundo de amar. Quanto mais se está só, tanto mais se quer amar e ser amado.

E, como a solidão é uma negação e uma privação, algo como o nada em relação ao ser, ela não resiste a afirmação do amor que um dia pode esboçar-se em nós. É que, na realidade, apesar das aparências fatalistas, o homem não nasceu para a solidão. Carrega-a dentro de si como uma tentação e ao mesmo tempo um mau temível. Mas a sua existência não é uma complacência com a solidão. Ela é busca obstinada do amor.

Vivendo por si mesmo, o homem está ancorado na solidão. Mas a aspiração dele não tem por objeto – longe disto – o estar-só, mas o ser-a-dois.Duas solidões que se encontram, se superam e se lançam para fora de si mesmas, formam um amor.

E o amor não é, em suma, senão esta doçura de ser dois, que evocamos no início do texto. É a esta doçura que se opõe a tragédia do estar-só. Talvez seja necessário viver essa tragédia da maneira mais profunda possível, talvez seja necessário atingir esse momento em que o coração estoura e onde o espírito morre para compreender que o único caminho de felicidade humana é o do amor. Lembrem-se disto sempre os que receberam a graça de viver a doçura de ser-a-dois, e estejam atentos para não fazer soçobrar o seu privilégio em uma solidão que recriarão sob o impulso de seu egoísmo nefasto. O Eu só é verdadeiro se puder ser pronunciado diante de um Você.

play - presenças ausentes, ausências presentes

Eu já estive mulher muito diferentemente da que estou agora.
Do tipo que vive anestesiada com a eternidade da vida.
Hoje, consciente de sua brevidade, pego o touro pelos chifres, mesmo que seja por segundos.
A Van Gogh
Set/2001

na praia

É surpreendente como o cosmos consegue compensar nossas perdas.

Mergulhada em anos de amorfia, convivência morna, relacionamento distante, mentiras justificadas, substituições inquestionáveis. Emergi há poucos meses!

Fatos, antes banalizados, ganham sabor diverso e reverso.

É ótimo o sabor de uma quarta-feira num bar qualquer, da noite esticada num hotel barato, dum final de semana na praia, dum sábado jogando vídeo game, dum vinho (de procedência questionável) em companhia de amigos nem tão conhecidos, compras pro jantar a dois, do passeio ao shopping, do sexo envolvendo apenas as bagagens de duas pessoas, da descoberta da solidão-a-dois, da tecno-musique, do anos 80...

É sabor! É sabor!

Sentir-se premiada quase aos 40 do segundo tempo. Sentir-se acompanhada mesmo durante uma pequena milha e não evitar pensar no futuro. Pra quê? Se o presente nos é caro!

Deverá ter estranheza tamanha aportar em um abraço calmo com cheiro de primavera em Paris. April in Paris.

Depois de negar todos os clichês .

Depois de tantos nãos!

Cavar espaços para o “por que não?”.

Obrigada Ísis!

Obrigada Zeus!

Obrigada Vênus!

LACRIMAR-LACRIMANDO

Não quero amor de fim de semana!
Meu coração não conhece sábados, domingos ou feriados.
Há quem ousa, temporariamente, freá-lo ou pausá-lo. Que sejam temporários! Que sejam. Quem?
Não posso agendar meus sonhos, programar devaneios, fechar os olhos e simplesmente entrar em coma.
Não desejo isso.
E quando acordo, explodindo de paixão, vou à rua e grito.
E quando sonho, quero logo acordar e tomar minha porção de realidades sonhadas.
E quando me perco, longe, testa franzida, braços em cruz diante do peito ou mãos sobre os olhos a proteger-me do sol, é quando visualizo os tempos e as cheganças.
Não posso arquivar-me no domingo à noite e reativar minhas propriedades na segunda de manhã. E não quero esquecer os fardos da semana e viver lívida, calma e apaixonadamente meu final de semana em alguma colina verdejante.
Quero o amor hoje, que é quarta. Quero sonhar hoje que é semana. Quero acordar de repente e ver que é quinta-feira, ainda.
E estou viva, ainda.
Não quero regras: dias para se serem sonhados e dias para serem esquecidos; dias de viver e dias de se deixar levar; dias de ser e dias de ter.
Ao corpo em chamas, clamando pelo amado, quero apenas dizer: Ei-lo.
Ao coração que pergunta, apenas: Veja por si mesmo.
À mente perturbada: Durma, é só um sonho.
E ao derredor: Basta! Tomemos de assalto a vida.
É de hojes que são feitos os amanhãs.
19.07.2006

VÔMITO

De quê será que preciso?
Para aplacar essa dor contínua, angustiante, sufocante e dilacerante!
Seria tão mais simples... Nascer, crescer, ter boas notas na escola, passar na faculdade, arranjar um emprego interessante, namorar se apaixonar, casar e fazer outra pessoa... Nascer, crescer... só isso!
Mas não!
Sinto a dor interminável de um coração rasgado. Sinto seu pulsar expresso entre muita dificuldade vital, dúvidas, questionamentos, inadequação social.
Moldes!!
Moldes???

SILÊNCIO

Silêncio

Só um sol penetrando entre nuvens
Só o vento insistindo em adentrar
Só o frio vencido pelos edredons
E o estalo das páginas lidas
Só a respiração que oscila entre as diversas paisagens do livro
Só o zunir da energia de nossos corpos, entrelaçando-se
E, lá fora, os carros
longe...

Só um bocejo ou outro
Só um tic-tac e um tunc-tunc
Só minha pena deslizando
E o murmúrio da saliva escorregando traquéia abaixo
Só a movimentação de nossas órbitas oculares observadoras
Só o ir e vir de pensamentos domingueiros, vagos...
E, aqui, você
pertinho...

E o silêncio!
Reinando absoluto, servindo-nos de ponte
entre um beijo e outro.
Quem se atreverá a demolir
tão belo castelo de areias e cartas?
O tempo se encarrega de tecer lembranças
com fios indestrutíveis e onipresentes.
E o cosmos registra pra sempre no éter
meu sorriso de contentamento no hoje

quarta-feira, 30 de julho de 2008

sou pop? - 3

Sem título

Olhar a volta?

Olhar acima?

Olhar a frente?

Onde?

Onde?

Não ria

Não sofra

Não folgue

Olhe

Não nua

Não podre

Não bela

Não finja

Não corra

Não chore

Olhe

Não crua

Não fome

Não ela

Não minta

Não bata

Não jogue

Olhe

Não tua

Não hoje

Não dela

Não sinta

Não encolha

Não implore

Olhe

Feche os olhos para ver

sou pop? - 2

Ode

Teçam dos céus suas mais aprazíveis teias

Com seus fios indecorosos

Armados assim harmonizam o banal

Riem do cotidiano, empolgam-se no trivial

Enfeitem com colares de marfim essas damas de incerteza

Cantem seus cantos modais, atonais, politonais

E melodias curvilíneas, míticas, arrítmicas, felinas

Abalem os mundos das certezas eternas

Das verdades absolutas

Da perfeição invulnerável

Abalem os mundos das certezas internas

Das verdades obsoletas

Da perfeição inabalável

Tudo vale a pena se a alma não se apequena?

Não se acovarde!

Não se esconda!

Não se evite!

Não se ignore!

Is it your time?

It’s time again!

Yeah! There’s a time for us!

Again and again!

sou pop?

Ode

Teçam dos céus suas mais aprazíveis teias

Com seus fios indecorosos

Armados assim

Ridicularizam o banal

Riem do cotidiano

Empolgam-se no trivial

Enfeitem com colares de marfim

Essas damas de incerteza, insegurança, obscuridade e imprecisão

Cantem seus cantos modais, atonais, politonais

Tonalizem com suas melodias curvilíneas, arrítmicas, felinas

Abalem os mundos das certezas eternas

Das verdades absolutas

Da perfeição invulnerável

Abalem os mundos das certezas internas

Das verdades obsoletas

Da perfeição inabalável

Tudo vale a pena se a alma não se apequena

Não se acovarde!

Não se esconda!

Não se evite!

Não se ignore!

Is it your time?

It’s time again!

Yeah! There’s a time for us!

Again and again!