domingo, 24 de novembro de 2019

20:11



Me gritaram negra
E a pele por ser mais escura não merece menos
Me gritaram negra
E nem um único fio 4 de cabelo merece menos
Me gritaram negra
E o preto que não faz música ou futebol não merece menos
Me gritaram negra
E o tambor e as ervas do terreiro preto não merecem menos
Me gritaram negra
E a fala que engole os ~s enquanto suinga o verbo não merece menos
Me gritaram negra
E a ancestralidade não eurocentrada não merece menos
Me gritaram negra
E meus irmãos silenciados antes de amanhecerem aos 18 não merecem menos
Me gritaram negra
E o suor e a força de trabalho preto não merecem menos
Me gritaram negra
E os úteros negros não merecem menos
Me gritaram negra
E os corpos que atendem outras curvas não merecem menos

Negra sou
Negra vim e
Negra vou

Me gritam negra
Me exaltam e dizem se orgulhar de mim
E assim se têm no direito de dizer quem é o preto de excelência
Nos escolhem em melhores cores  e
Quem merece ou não ser respeitado
Quem pode ou não se guiar em seus caminhos e escolhas
Que beleza é ou não realmente bela
Nos limitando em sonhos e territórios
Você me abraça enquanto varre os meus pra debaixo da mesa
Me elogia enquanto cala a nossa história
Me aceita enquanto apaga a nossa herança
Me assimila enquanto humilha a nossa arte
E no feriado, alegre nos oferece sorrisos felizes de igualdades eternas

Te digo que nossas cicatrizes não mentem
existimos
sentimos
discutimos
refletimos
resistimos
reagimos
diferimos
até divergimos
mas, luzimos
sorrimos em orgulho com nossas coroas e jóias

E, mais do que nunca
De pé
Lado a lado
Nos amamos

Negros somos
Negros vamos e
Negros voltamos
Em muit@s somos
E não andamos só

















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