quarta-feira, 18 de junho de 2014

Ne me quitte pas

A dificuldade de se apaixonar por uma criação sua,
Que num determinado momento ganha vida própria e, se vai de você
- não que eu deseje mais o sonho
É que não é nada fácil me libertar, desiludida
E choro, num rondó eterno, pela volta do meu bem - que nem era
Volta...
Não me deixe
É preciso esquecer
Tudo pode ser esquecido, que já tenha passado
Esquecer os tempos dos mal-entendidos
E o tempo perdido tentando saber 'como'
Esquecer as horas que às vezes mataram a golpes de 'porque' a última felicidade
Não me deixe

Não me deixe
Te oferecerei pérolas de chuva vindas de países onde nunca chove
Escavarei a terra
Escaparei da morte para cobrir teu corpo de ouro, de luzes
Criarei um país onde o amor será rei, onde o amor será lei
E você a rainha 
Não me deixe

Não me deixe
Te inventarei palavras absurdas que você compreenderá
Te falarei daqueles amantes que viram de novo seus corações ateados
Te contarei a história daquele rei, morto por não ter podido te reencontrar
Não me deixe

Não me deixe
Quantas vezes não se reacendeu o fogo do antigo vulcão que julgávamos velho?
Até há quem fale de terras queimadas a produzir mais trigo que o melhor abril
E quando vem chegando a noite com um céu flamejante
Vê como vermelho e o negro se casam para que o céu se inflame
Não me deixe

Não vou mais chorar
Não vou mais falar
Me esconderei aqui para te contemplar a dançar e sorrir
Para te ouvir cantar e rir
Deixe que eu me torne a sombra da tua sombra
A sombra da tua mão
A sombra do teu cão
Não me deixe...
Não me deixe...
Não me deixe...
Não me deixe...

"Sobre a covardia dos homens"

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