sábado, 14 de junho de 2025

deixa 2

diante do mar

as horas eternas exatas flutuam

entre grãos dourados de sol

e o verde úmido nos meus pés


águas que calmam

levam ao céu, vermelho céu

coração leve de pluma azulada

nuvem dizendo vem

vento dizendo espera


vem de longe

barco que me traz quem eu sou

sonda as ondas feitas de amanhã

pontua hoje como a quem 

é certo nada saber


diante do imenso

os riscos rezam teia

infinitas vontades

entre mãos de ser e devir

colando o incerto repleto de vazio


deixa vir

deixa ir

assiste com quem sonha

um sonho quem nem é seu

deixa


e a noite vem

de escuras águas 

silêncio espelhando luz


tem luz

ouve, ouve

houve

um novo há de vir


14jun25

(saindo da toca, nariz pra fora do buraco, respira fundo, pega ar, boia, nada, mergulha e volta)

Nada

leva

e traz meu sorriso

desfeito no gelo

que nem sinto


vai

e vem meu sonho

desilusão em cores

que nem vejo


mora em mim

avesso de tudo

no oco encanto

que nem é meu


14jun25

(depressão, côncavo, convexo, buraco sem fundo, buraco negro, toca, buraco sem fim)


sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Água

água que lava 

água que leva 

e essa espuma

de um mar imenso que se agita 

é água


água de aguar

água de rodar

vem do mangue

e do lodo que cresce e insiste

é água


debaixo da ponte

dançando na fonte

mesmo esse fio

desfilando ali: baía e poço

é agua 


água parada é água

água que cai é água

água que seca é água

se deságua é água


me mareia é água

me enlameia é água

água no copo

água no corpo

é água


meu pranto é água

teu gosto é água

água de bica

onda que fica 

é água


me segura é agua

na secura é água

em desejos e sonhos

navegar meu barquinho de saudade 

em água


entorna o caldo é água

desanda o molho é água

eu no teu mundo sou água

só água


água escoada é água

água empoçada é água

água de março é água

se tem mágoa: água


a mesma água

é sempre a mesma água

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Maracujando

E não me sai da cabeça
do corpo
do frio da barriga
do arrepio pela espinha adentro

E não me sai dos ouvidos
da língua
do sonho acordada
da minha pele impressa com seu nome e sobrenome

E não me sai o teu cheiro
da entrega
do sorriso me invadindo
do meu riso em denúncia desse prazer explícito

E não me sai da memória
dos poros
dos cantos da sala
dos cantos da alma em forma de trilha

Eu dormindo do seu lado
Acolhendo seu hálito que me perfuma com sabor de delícia
Meu ar respira ao seu avesso meio sem nem planejar
Se encaixando ao seu ritmo distraído
Vindo pra dentro de mim
Vamos em duo
Porque você se dá
Me envolvendo

Eu acordando do seu lado
Sentindo sua mão que desliza com força pela minha nuca
Meu quadril respondendo meio sem nem pensar
Se empinando todo na sua direção
Gritando pelo seu nome
Grito em duo
Porque ela arde e inunda
Te querendo

Eu com saudade do seu lado
Calculando sem regras esse seu tempo de ir e voltar
Meu corpo inteiro em carência meio sem nem aguentar
Se entregando em desejos e faíscas
Querendo o que é seu
Querer em duo
Porque já somos sem limite
Nos entrelaçando

Jarra Jan/2020





domingo, 24 de novembro de 2019

20:11



Me gritaram negra
E a pele por ser mais escura não merece menos
Me gritaram negra
E nem um único fio 4 de cabelo merece menos
Me gritaram negra
E o preto que não faz música ou futebol não merece menos
Me gritaram negra
E o tambor e as ervas do terreiro preto não merecem menos
Me gritaram negra
E a fala que engole os ~s enquanto suinga o verbo não merece menos
Me gritaram negra
E a ancestralidade não eurocentrada não merece menos
Me gritaram negra
E meus irmãos silenciados antes de amanhecerem aos 18 não merecem menos
Me gritaram negra
E o suor e a força de trabalho preto não merecem menos
Me gritaram negra
E os úteros negros não merecem menos
Me gritaram negra
E os corpos que atendem outras curvas não merecem menos

Negra sou
Negra vim e
Negra vou

Me gritam negra
Me exaltam e dizem se orgulhar de mim
E assim se têm no direito de dizer quem é o preto de excelência
Nos escolhem em melhores cores  e
Quem merece ou não ser respeitado
Quem pode ou não se guiar em seus caminhos e escolhas
Que beleza é ou não realmente bela
Nos limitando em sonhos e territórios
Você me abraça enquanto varre os meus pra debaixo da mesa
Me elogia enquanto cala a nossa história
Me aceita enquanto apaga a nossa herança
Me assimila enquanto humilha a nossa arte
E no feriado, alegre nos oferece sorrisos felizes de igualdades eternas

Te digo que nossas cicatrizes não mentem
existimos
sentimos
discutimos
refletimos
resistimos
reagimos
diferimos
até divergimos
mas, luzimos
sorrimos em orgulho com nossas coroas e jóias

E, mais do que nunca
De pé
Lado a lado
Nos amamos

Negros somos
Negros vamos e
Negros voltamos
Em muit@s somos
E não andamos só

















quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

parte de mim (versao 1)

Parte de mim é isso
E parte, aquilo
Parte de mim parte
E parte fica
Fica em mim uma parte
A outra parte, se esvai
Feito rio se vai
Desejando mar
Porque saudade em rio doce
Agora é sal
Perdido em vastidão de areia
Que já foi pedra
Que já foi rocha
Que já foi
Mas, volta em cada onda
Onda em mim, leva
Onda em mim, traz

Então, sorrio
Natureza em ondas
Morre e renasce comigo
Todo dia!

FB dec, 2, 15

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Dave (not goliac)

Era muita paz, entrosa, quietude de alma, corpo exausto e feliz
Completude, encaixe
Silêncio de mundos e eras anteriores aos sons
Era só sobre o quanto teu corpo abarca o meu
E o como meu corpo se aproxima do teu
Apenas sobre estar junto, sem estar
Apenas sobre estar juntos, estando
Era sobre como compomos essa aproximação
Feita de acasos e vizinhanças próximas
Como melodia feita de água e vento
De ondas feitas de pequenas pedras lançadas no lago
Esse lago de luminosidades coloridas
Vivas, vivas
De viagens irmanadas desde o ventre
Como crianças doidas ignorando o tempo e o espaço
Libertando histórias improváveis 
Aprendendo a dor e a delícia de ser
Benquistar, harmonizar sem pressa
Era só sobre ser
E estar sem querer ser
Era sobre estar
E ser mesmo sem estar
Sendo e estando quase sem querer
Era só sobre uma noite, uma tarde
E meio que quase outra noite
Era sobre uma brisa infinita
Soprando entre nossos corpos colados, suados
Só pra lembrar que é de dois que se faz um 
Sobre como não precisa de muito
Era sobre como só se precisa de tudo para estar junto
Algo assim
Só estar